Sobre o Contemporâneo
Multimeios de Possibilidades

Sobre o contemporâneo

Sobre o Contemporâneo: Multimeios de Possibilidades

 

ORGANIZADORES

Rodrigo Gontijo
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1177520800387401

Roger D. Colacios
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0041482937454960

Sinopse:

Esta publicação surge a partir do XI MULTICOM, um tradicional evento do curso de Comunicação e Multimeios da Universidade Estadual de Maringá, realizado nos dias 16, 17 e 18 de agosto de 2023, com tema “Sobre o Contemporâneo”. O evento contou com a oferta de oficinas sobre temas correlatos a comunicação e o audiovisual, com a apresentação de trabalhos científicos e também com a presença de convidados para proferir palestras, todos trazendo como enfoque a contemporaneidade, abordando a convergência de linguagem, uma das marcas desta temporalidade, seja no cinema, nas artes ou música.

Um dos palestrantes do evento foi Raimo Benedetti. O montador de filmes e artista multimídia abordou em sua palestra-performance Cinema das Atrações, ou seja, o cinema, que ainda sem linguagem definida, ocorreu na virada do século XIX para XX. O artista percorreu a história das técnicas e tecnologias que deram sustentação para o primeiro cinematógrafo dos irmãos Lumiére e que inaugurou a era do cinema.

Lucas Bambozzi, artista multimídia, pesquisador e professor, foi também convidado do XI MULTICOM. Além de exibir seu premiado longa Lavra (2021), ministrou a palestra Solastalgia e outros desvios contemporâneos, ambos sobre as crimes ambientais promovidos pelas mineradoras na região de Minas Gerais e sobre a transformação e desaparecimento da paisagem, que desencadeiam sentimentos de angústia e ansiedade na população ao redor.

Na palestra Entre os Multimeios, a Música, os músicos, artistas multimídias, compositores e ganhadores do prêmio Grammy, Tulipa Ruiz e Gustavo Ruiz, ex-alunos do curso de Comunicação e Multimeios na PUC-SP, abordaram suas produções artísticas, na música e para além delas, em trajetórias marcadas por convergências de linguagens, tais como, música, composição, produção musical, ilustração, moda.

Portanto, para aprofundar as reflexões levantadas pelo XI MULTICOM, convidamos os palestrantes citados, assim como professores e pesquisadores que apoiaram o evento e estiveram, de alguma maneira, envolvidos com a organização, para contribuírem com a publicação Sobre o Contemporâneo: Multimeios de Possibilidades.

Pensar o contemporâneo, para além daquilo que está relacionado à nossa época ou a um tempo cronológico, se torna um grande desafio. Para o historiador, o contemporâneo embora possa parecer preso ao tempo datado, conceitualmente trata-se do ano de 1789 com o início da Revolução Francesa, é uma definição fluida, pois se estende por mais de dois séculos e ainda avança sem barreiras pelo XXI. Essa fluidez histórica tem relação também com o sentido de pertencimento ao tempo contemporâneo, pois se hoje vivemos a contemporaneidade, somos tão próximos assim daqueles que estiveram por aqui há cem anos ou mais? Seríamos contemporâneos daqueles que olharam espantados para o primeiro tear a vapor no final do século XVIII? Ou ainda daqueles que assistiram a chegada dos navios da realeza portuguesa em 1808? Ou para não deixar dúvidas, poderíamos nos sentir pertencentes ao mesmo contemporâneo daqueles que lutaram contra a ditadura civil-militar brasileira dos anos 1960?

Embora muitos de nós, autores/as e leitores/as, tenhamos nascido sob o regime ditatorial, encerrado em 1985, o sentimento de pertencimento ao agora, ou pelo menos, na confluência de gerações no presente, de fazer parte deste contemporâneo certamente é muito maior. As fronteiras dos tempos históricos, da divisão tradicional quadripartite (antiga, medieval, moderna e contemporânea) não concebem a descontinuidade do tempo no futuro. E o que vem depois do contemporâneo? O mais contemporâneo, o novo ou mesmo novíssimo contemporâneo?

As provocações de Giorgio Agamben, no livro O que é o contemporâneo? e outros ensaios (2009) foram norteadoras para a concepção do evento e desta publicação. O filósofo italiano concebe o contemporâneo como uma “fratura”, algo que “impede o tempo de se compor”. Afinal, “somente quem percebe no mais moderno e recente os índices e as assinaturas do arcaico pode dele ser contemporâneo”. Portanto, olhar para o contemporâneo é olhar também para o passado, para compreender onde nos encontramos e para onde iremos caminhar. Dentro desta perspectiva, os Aimaras, indígenas do Altiplano Andino, tem uma concepção singular do tempo, contrastando com a linearidade ocidental. Para estes povos originários, o passado se projeta à frente, enquanto o futuro é algo que se localiza atrás, afinal enxergar o passado é olhar para aquilo que ocorreu, permitindo assim um percurso mais seguro rumo ao desconhecido.

Portanto, o que temos aqui nesta obra é a noção de um contemporâneo mais amplo que ultrapassa suas indefinições temporais, através de artigos, ensaios e ilustrações que fazem parte do agora e que estabelecem entre si relações entre passado, presente e futuro refletindo e ampliando o entendimento do contemporâneo nos âmbitos da política, educação, cinema, artes, corpo, comportamento e sexualidade.

Vértebras Quebradas, primeira parte do livro, traça um panorama histórico, ensaístico e artístico para se compreender as obscuridades da contemporaneidade. Daniel Augusto, em Tempo do fim, oferece balizas históricas e conceitos para que possamos, como ele mesmo aponta, “localizar as fontes da nossa precariedade”. Em O presente como tempo subversivo na história da comunicação, Ana Cristina Teodoro da Silva aborda as diferentes formas de perceber o tempo em relação ao tempo linear e cronológico no campo do estudo de história permeadas por um “multimeios de possibilidades”, frase que tomamos emprestado para o subtítulo do livro. David Netto procura traçar, no artigo Reinventando a roda? História, mídia e negacionismo, uma relação entre diversas crises sociais para refletir sobre, em suas palavras, “a forma pela qual produziram uma separação entre passado, presente e futuro, criando a imagem de um presente infinito”. Na sequência, temos O escuro do nosso tempo: fake news e suas implicações ao sistema democrático de Graça Penha Nascimento Rossetto, que à luz de Agamben, explora a relação entre a contemporaneidade e a comunicação política online, para abordar a produção de fake news. Nestes tempos permeados por telas, no qual a visão se torna um dos sentidos dominantes, Lucas Bambozzi em Das invisibilidades metafóricas, poéticas e reais, traça um panorama do invisível, que está em toda parte, em diversas áreas como na arte, tecnologia e política. Multi tudo, multi nada é um ensaio de Gustavo Ruiz que discorre sobre os desafios tecnológicos na dispersão e sobrecarga de informações questionando os efeitos nos modos como percebemos o mundo e nos relacionamos com ele.

Origens no Presente, segunda parte do livro, é dedicada ao cinema e suas relações com o contemporâneo. Em Cinema dos primórdios: presente, passado e futuro, o videoartista Raimo Benedetti promove instigantes reflexões ao tecer relações entre o Cinema das Atrações e os vídeos produzidos no Youtube, afinal, como o próprio autor aponta “a internet é ainda também um espaço de narrativas curtas, de excertos da mesma forma que era o cinema dos primórdios”. O projeto Cine Concerto Limite, realizado pelo Cine UEM em parceria com a Orquestra de Câmara da UEM, é o tema do artigo Cine Concerto Contemporâneo ou no “Limite” da modernidade escrito por Rael B. Gimenes Toffolo, Rodrigo Gontijo e Sabrina Laurelle Schulz. Nele, os artistas/pesquisadores apontam, através da performance de cine-concerto, a contemporaneidade do filme Limite (Mário Peixoto, 1931), que foi por décadas eclipsada pela trilha sonora original. No ensaio Escrileitura sobre o contemporâneo em Aftersun, Zuleika de Paula Bueno trata do conceito da contemporaneidade no longa dirigido por Charlotte Wells, a partir de uma perspectiva teórica inspirada nas obras de Giorgio Agamben e Thomas Elsaesser. A seguir, Lavra: morte e vida no contemporâneo de Roger D. Colacios e Alive V. Locastre, partem do filme Lavra (2021) de Lucas Bambozzi, para discutir os desastres ambientais, sociais e econômicos resultantes das atividades de mineração, assim como criticar a noção de “desenvolvimento sustentável” e outras abordagens que buscam mascarar os impactos do capitalismo sobre o meio ambiente. Apontando para um aparente futuro distópico, Do cinema das atrações ao neurocinema: relações entre cinema e emoções de Erick Paiola Vidoti, Rodrigo Gontijo e Tiago Franklin Rodrigues Lucena, procuram responder às questões presentes no texto: “Como são realizados os mecanismos de transmissão de emoção do filme para os espectadores? E como pensar em novos caminhos para incorporar as emoções dos espectadores dentro do filme?”. Afinal, o cinema enativo, que coleta dados provenientes das reações dos espectadores, enviando-os para uma “máquina de montagem” que geram sequências fílmicas em tempo real, já é uma realidade.

A terceira e última parte, intitulada Questão de Coragem, traz as artes visuais, artes do corpo e questões de gênero para o centro do palco da contemporaneidade. Pierpaolo Negri, em MeninA veste rosa, meninO veste azul, traz a compreensão das relações entre não-binários e as suas percepções, a partir dos reflexos audiovisuais encontrados em artistas ou personagens contemporâneos. Já André Rosa utiliza três de suas performances para escrever, Na contracapa exorcize seu tesão-gozo no kombo do contemporâneo, em que direciona seu questionamento às formas como o capital controla e domina os corpos. Suas performances realizadas em Coimbra/Portugal, procuraram trazer o corpo em seus multi dimensionamentos, levando o público a refletir sobre as propriedades e limites do próprio corpo no mundo atual. Vinicius Stein em Ser contemporâneo desde cedo: reflexões sobre arte contemporânea e a educação na infância nos leva a pensar sobre o papel da arte contemporânea para o desenvolvimento de uma percepção crítica e inventiva na educação básica. Para isto, o autor recorre a exposição A/cor/do que brilha de João Paulo Baliscei e aos trabalho do grupo de pesquisa ARTEI. Fechando o livro, temos o capítulo Memes e cultura visual contemporânea: conflitos entre expectativas e realidades afetas à educação de João Paulo Baliscei e Maria Fernanda S. de Abreu, no qual é discutido os memes, enquanto artefatos da cultura visual, como sendo ferramentas pedagógicas para formação dos sujeitos e a compreensão das transformações identitárias na atualidade.

Cada uma das três partes – Vértebras Quebradas, Origens no Presente, Questão de Coragem – que compõem Sobre o Contemporâneo: Multimeios de Possibilidades, foram  nomeadas com frases retiradas do ensaio O que é o contemporâneo de Agamben (2009) e trazem o desenho-costura Pano de Chão, Cabeça-coração, Até quando vai esse aprendizado? e Tá na cara, conjunto de inquietantes e instigantes ilustrações de Tulipa Ruiz. De estilo artesanal com características de desenhos manuais e colagens, as imagens simbólicas ressoam, refletem e materializam determinadas questões debatidas acerca do contemporâneo, através de mulheres ali retratadas que recebem “em pleno rosto o facho de trevas que provém do seu tempo” (Agamben, 2009). Os desenhos foram criados para a edição brasileira do jornal Le Monde Diplomatique e gentilmente cedidos para a Universidade Estadual de Maringá.

À medida que mergulhamos nos artigos, ensaios e ilustrações que compõem Sobre o Contemporâneo: Multimeios de Possibilidades fica evidente que compreender o mundo em que vivemos hoje é uma tarefa cada vez mais desafiadora, porém crucial para enfrentarmos o desconhecido e construirmos um presente a partir dos acontecimentos passados. Por fim, gostaríamos de agradecer a todas as pessoas que se juntaram a nós nessa jornada de investigação e reflexão sobre esse tema inesgotável que é o contemporâneo.

 

Boa Leitura!

 

Rodrigo Gontijo
Roger D. Colacios

itaipu

Diamond Road Open Access
Open Access | Livre na internet | Creative Commons

 

OPEN ACCESS, ou acesso aberto, é um conjunto de princípios e uma série de práticas através das quais as saídas de pesquisa são distribuídas online, sem taxas de acesso ou outras barreiras.

Com acesso aberto estritamente definido, ou acesso aberto livre, as barreiras à cópia ou reutilização também são reduzidas ou removidas aplicando uma licença aberta para direitos autorais.‎

 

 

CREATIVE COMMONS é um tipo de licença de atribuição em que os autores podem especificar que seu trabalho seja usado de uma determinada maneira.

Em geral, conteúdo do tipo CC não exige que você solicite permissão antecipada ou pague qualquer tipo de taxa de licenciamento ao autor.

Entretanto, obras em Creative Commons ainda estão protegidas por direitos autorais.

O que difere sua aplicação, nesses itens, é que os criadores optaram por ampliar sua disponibilidade para uso.

Mesmo sob o regime, criadores tem total poder de decidir como seus trabalhos serão reutilizados ou revisitados de acordo com seu desejo.

Dentro do nosso portfólio, temos diversos tipos de obras:

– Obras abertas, Open Access e com licenças Creative Commons;

– Obras fechadas com indicação para compra dos leitores;

– Revistas periódicas de publicação recorrente, que são de livre consulta e registradas.

Ao mesmo tempo que protegemos ferozmente a propriedade intelectual de nossos autores e defendemos a liberdade de expressão, garantimos que suas vozes levem além da página e entrem nas dobras das comunidades e sociedades em todo o mundo.‎

CONHEÇA NOSSAS PUBLICAÇÕES!

NOVAS OBRAS

ENTRE EM CONTATO CONOSCO

VAMOS PUBLICAR SUA OBRA JUNTOS?

ENTRE EM CONTATO CONOSCO!

Tem alguma dúvida? Mande uma mensagem para nós e vamos conversar!

Ligue para nós

(44) 3367-8483

E-Mail

CONTATO@VOXLITTERA.COM.BR

WHATSAPP

(44) 9.8809-1333

redes sociais

FUNCIONAMENTO

  • Segunda-feira 08:00 - 18:00
  • Terça-feira 08:00 - 18:00
  • Quarta-feira 08:00 - 18:00
  • Quinta-feira 08:00 - 18:00
  • Sexta-feira 08:00 - 18:00
  • Sábado 08:00 - 14:00
  • Domingo Fechado

QUE TAL PUBLICAR SEU LIVRO?

Venha conhecer nosso atendimento personalizado e nossas vantagens!